terça-feira, 5 de dezembro de 2006

O Jornal Nacional

Há muito tempo que não vejo o JN, não agüento o tom dos apresentadores quando noticiam qualquer coisa. Parece que o mundo vai acabar.

O JN é um telejornal presente na memória de todos, tem uma história muito importante e ainda é o veículo de maior projeção da tele-informação. Meses atrás veio a público que o perfil do espectador deste jornal é o "Holmer", personagem dos Simpsons. Confesso que nunca fui fã dos Simpsons e conseqüentemente não sei muito bem quem é o Holmer, mas pelo que se diz, ele é um americano típico que acredita em qualquer coisa e não tem muito senso crítico. Ou seja, se alguém diz para ele que a água do mar faz bem para a memória, é bem possível que ele comece a colocar garrafas de água do mar na geladeira para tomar.

Pois bem, este é o perfil de quem assiste o JN segundo o Willian Bonner (Bonner-Holmer, parecidos não?), editor chefe do tele jornal. Mas estou aqui para falar do tom que eles dão as notícias e o pior, como estão deixando as pessoas em pânico ao noticiar qualquer coisa.

Vou dar um exemplo, uma matéria fictícia, uma notícia sobre frutas contaminadas: Encontra-se em algum lugar do país uma quitanda que vendeu frutas contaminadas. Vão até lá, filmam as frutas, a quitanda, entrevistam um médico, mostram a pessoa que passou mal com a fruta estragada, vê-se, em camera lenta, o dono da quitanda, que provavelmente não quer falar, falam do grande risco de comer uma fruta estragada, colocam números da quantidade de frutas consumidas no país e a possível porcentagem de frutas estragadas ou contaminadas e ainda insinuam que você pode ter consumido ou possuir frutas deste tipo na sua casa.

Também colocam na matéria um outro lugar muito limpo e organizado, tipo um grande supermercado, onde as frutas estão lindas e frescas, com um responsável que fala da origem daquelas frutas e da fiscalização que elas passam até chegar na gôndola para o consumidor. Normalmente evitam falar sobre o preço, que é bem mais caro. Depois entrevistam uma nutricionista para dizer da importância das frutas na alimentação. Fim da matéria.

Resultado: os "Holmers" ficam com medo de comprar frutas na quitanda que fica perto de casa, passam a comprá-las em algum supermercado com boa aparência e começam a olhar para o dono da quitanda com cara feia, como se ele tivesse enganado a todos durante anos e anos.

Porque acontece isso: o tom da matéria é para dar medo e, por de baixo dos panos, pode estar uma propaganda subliminar da associação de supermercados, que investiram milhões e querem acabar com a concorrência dos pequenos comerciantes. No intervalo, ainda é possível ver um belo comercial de uma grande rede de supermercados. É assim que funciona o JN e muitos outros telejornais.

Porque estou escrevendo sobre isso. A maioria das pessoas que assiste diariamente o JN está ficando com medo e pânico de tudo. De ir as compras, da violência urbana, dos transportes, não acreditam em ninguém, os políticos são todos ladrões, menos aqueles que os editores apóiam e acabam induzindo os tele espectadores que o melhor é ficar em casa assistindo a novela, pois assim nada de mal vai acontecer.

Duas historinhas:

1- No domingo à noite, um cidadão, que detesta o JN, estava num bar com amigos e toca o celular, era a mãe do sujeito dizendo que o pai dele tinha saído às 21 horas para comer num árabe perto de casa e já era quase 23 horas e ele não tinha voltado.

O cidadão disse que o pai poderia ter ido ao cinema, pois existe um que fica no caminho, já que o celular estava desligado. A mãe estava aflita e nervosa. Quinze minutos depois a mãe liga dizendo que o pai já estava em casa e que, de fato, tinha ido ao cinema.

Tudo bem que não tinha falado que ia ao cinema, mas desaparecer por duas horas não pode deixar as pessoas nervosas.

2- Ontem o outro caso com o mesmo cidadão. Ele vai viajar com o filho para o sul do país para passar as festas de natal com familiares e as avós, uma delas está fazendo 90 anos. Pois bem, eles vão de ônibus, pois as passagens aéreas estão caras e ele não está com muito dinheiro, está momentaneamente sem trabalho.

Toca o telefone, era a mãe do filho dele, pois são separados. Ela estava assistindo uma matéria no JN que falava sobre as condições dos motoristas de ônibus interestaduais. Com o típico tom dos âncoras do JN, ela ficou com medo e pânico e não quer deixar que o filho viaje neste tipo de transporte. O sujeito, que estava jantando, ficou atônito, não conseguiu dormir bem à noite, mas resolveu não discutir com a mãe do filho dele.

É o Jornal Nacional "holmerizando" todo mundo com o seu jornalismo eficiente. E aí, o que devo falar para este cidadão???

Se você gostou desta postagem, leia também "O buraco em baixo do rodapé".

2 comentários:

NIVALDO RIBEIRO disse...

Isso chama-se falta de insenção. Eles editam as reportagens da forma que for mais conveniente ao departamento comercial da emissora que já fatura horrores diariamente. É a informação exposta à venda. Quem pagar mais leva a mercadoria (notícia) costumizada de acordo com o gosto do freguês.

Jôka P. disse...

Oi, Peter !
Vim conhecer o seu blog,mas não sei nem como cheguei aqui !
Abç!
Jôka P.